terça-feira, 18 de junho de 2013

A frontalidade do treinador... Xabregas, na primeira pessoa!!!


NOME: Nuno Xabregas
CURSO TREINADOR FUTSAL: II Nível
ANOS COMO TREINADOR: 16 Anos.
CLUBES QUE TREINOU: Instituto D.João V (Juniores); Universidade do Algarve; Sonâmbulos
CLUBES COMO ATLETA: Académico de Leiria; Instituto D.João V; Bias de Olhão; S.Luís / Óptica Rui; Sapalense e Universidade do Algarve
CLUBE ACTUAL: Sonâmbulos
IDADE: 44 anos

Xabregas, é por muitos considerado o melhor treinador do Algarve, tem demonstrado ao longo dos anos uma capacidade de trabalho acima da média, com resultados a todos os níveis extraordinários.


LUIS BARRADAS- Nuno, podemos dizer que para a equipa dos sonâmbulos este ano foi o “Ano Zero”, digo isto porque rompeu um pouco com o passado, construindo uma equipa muito jovem?

Nuno Xabregas- Concordo totalmente que foi um ano zero e discordo parcialmente que rompemos com o passado. Construímos uma equipa nova com uma média de idades de 21,6 anos, mas com alguns jogadores que transitaram do ano anterior, não obstante apenas um, o capitão se encontrar acima dos 24 anos. Os restantes que ficaram situam-se entre os 21 e os 24 anos. Com os juniores que subiram mais alguns jogadores que integraram o plantel também entre os 20 e os 24 anos, conseguimos partir para um projeto novo, com uma cultura e uma identidade à minha imagem.
Associado ao que referi anteriormente, não podemos esquecer que a realidade económica, profissional e social de muitas famílias sofreu muitas alterações, sabemos que atualmente não é fácil para quem já é casado com filhos e responsabilidades profissionais, em que alguns precisam do Sábado de manhã para trabalhar, sairmos para jogar em Lisboa às 8.30 h e chegarmos por volta das 23.30h. Assim compreendemos mais facilmente que sem apoios financeiros aos jogadores nestas circunstâncias é muito mais difícil construir equipas como fazíamos há uns anos atrás. Portanto não tínhamos muitas alternativas, acompanhamos os novos tempos difíceis que temos, agarrámo-nos à formação que temos no clube e a jogadores jovens que ainda estudam, vivem com os pais e apesar de alguns trabalharem, conseguimos criar compatibilidades em prol de um novo projeto alicerçado em jovens que ainda não ganharam nada e que querem ganhar o que lhes deixarem vencer.


LB- Se para muitos foi surpreendente a vossa classificação (igualaram a melhor classificação de sempre – 6º lugar – 39 pontos), para quem conhece o teu trabalho acaba por não ficar surpreendido, mas acredito que tenha sido um ano difícil com tanta juventude?

NX- Surpreendente apenas foi para quem não nos conhece e não teve oportunidade de nos ver trabalhar e jogar. A equipa foi crescendo a cada semana de competição e o acreditar que era possível, com o desenrolar dos meses deixou de ser uma convicção para passar a ser uma certeza. É realmente necessário acima de tudo ter um Presidente, Vice-presidente e Direção acreditarem muito no treinador e que todo esse crer fosse transmissível ao grupo de trabalho. Por mais que um líder de uma equipa com tanta juventude acredite nos seus atletas tão jovens e no seu trabalho, é necessário que as vitórias apareçam, mas nós procurámo-las com muita humildade e com muita consciência daquilo que podíamos fazer e que estava ao nosso alcance. Os meus jogadores foram percebendo ao longo do tempo que apenas seria possível ganhar se estrategicamente fosse-mos disciplinados e apenas jogássemos para o resultado, independentemente do futsal mais ou menos vistoso que praticássemos. Os pontos que conseguimos felizmente fundamentam estes argumentos, os meus jogadores tão jovens tiveram grande mérito e coragem de terem acreditado em mim e em tudo o que lhes transmiti.


LB- Fazendo um resumo da época, quais os momentos mais marcantes?

NX- O primeiro momento marcante da época foi a vitória para a taça de Portugal contra o Pedra Mourinha num campo muito difícil e muito bem orientada por um treinador que nos conhecia bem. Depois de uma derrota por 5 a 0 na semana anterior em Lisboa, unimo-nos e sem alguns jogadores mais experientes ganhámos. Foi um tónico muito forte e um sinal de que poderíamos repetir a experiência.
O segundo momento que me ficou na memória foi a vitória em casa perante o mesmo adversário que no primeiro jogo do campeonato nos tinha derrotado por cinco bolas, depois de estarmos a perder por 3 a 0 ao intervalo. Esta vitória representou a nossa força perante a adversidade contra uma das melhores equipas do campeonato e a prova que seria possível ganhar a equipas que na classificação estivessem nos primeiros lugares.
Poucas semanas depois ganhamos os Sines, equipa fortíssima com excelentes executantes, ou seja a importância de grandes exemplos no passado para sustentar a mente.
Um terceiro momento muito marcante foi a vitória na casa do rival Louletano que até ao momento tinha levado toda a época a lutar pelos dois primeiros lugares, equipa com grandes executantes, muito cultos táticamente, muito experientes, enfim pouco têm para aprender em função do reportório imenso que absorveram ao longo de muitos anos. Para nós foi um jogo quase perfeito e que nos deu mais alguns pontos importantes na nossa caminhada e, que tanta falta acabou por fazer ao Louletano na subida de divisão.
Um quarto momento tão marcante revelou-se a partir de Janeiro quando conseguimos atingir a quarta eliminatória taça de Portugal e estabiliza-mos a meio da tabela classificativa. Associado a este fator e que me deu muita satisfação, foi novamente poder contar com o apoio de alguns simpatizantes e adeptos do clube que em Setembro nos atribuíam a descida de divisão e consequente distrital no final da época e um treinador que não durava até ao Natal, porque segundo eles com miúdos não fazíamos mais de 8 pontos. Todos os descrentes lembraram-se certamente do discípulo de Jesus Cristo, o Tomé que teve que ver Jesus ressuscitar para acreditar que era possível. Utilizando palavras que não são minhas, felizes daqueles que acreditam sem ver. Oxalá que tenha sido uma boa lição de vida para todos os que posteriormente voltaram a apoiar os jogadores, equipa técnica e direção.

LB- Na actual conjuntura é difícil que os projectos tenham princípio, meio e fim, os Sonâmbulos são uma das excepções no panorama algarvio. É um clube histórico e que muito tem feito pelo desenvolvimento da modalidade. Para o treinador Xabregas, quais as maiores dificuldades sentidas no actual panorama?

NX- Os Sonâmbulos são uma das boas exceções graças ao seu Presidente, que ao longo dos anos antecipou uma possível insustentabilidade financeira que suportasse a equipa sénior. Com a aposta desde sempre na formação e em todos os escalões de formação, o Presidente foi um visionário que com muitas dificuldades que sempre o acompanharam, conseguiu sempre manter as pessoas unidas e envolvidas no clube. Os jogadores e treinadores passam e o clube e presidentes mantêm-se com a mesma força e determinação.
Atualmente temos colaboradores que foram jogadores noutros tempos, este fato revela a mística desta enorme coletividade com 33 anos de história.
Não obstante, a formação do clube este ano, tenha sido o suporte da equipa, é necessário apoios imprescindíveis à manutenção das estruturas. O clube este ano em função dos cortes financeiros conseguiu sobreviver porque nunca descurou a formação e se houve ano que o clube foi premiado foi este ano, pela aposta que tem vindo a realizar desde há alguns anos a esta parte.
Só é possível continuar a manter todos estes jovens a praticar futsal na Luz de Tavira se nos ajudarem financeiramente, porque alguns dos atletas são do concelho de Tavira e têm de se deslocar para a Luz e nem sempre os familiares podem, porque ainda trabalham à hora do treino e, outros porque têm que despender no gasto do combustível. A nossa carrinha de transporte de atletas está parada porque nos faltam apoios. O mesmo podemos dizer da equipa sénior em que os jogadores que não vivem na Luz, têm que suportar o combustível quando se deslocam aos treinos e aos jogos, mas assim temo-nos tornado mais fortes, porque apenas lá estão os que querem ajudar o clube sem qualquer contrapartida.


LB- Muito se fala na identidade de uma equipa e de um clube, olhando para a vossa equipa, é fácil perceber essa identidade, com um padrão de jogo bem definido. Esse conceito e forma de trabalho está a ser transmitido aos restantes escalões de formação, por forma a que haja um maior conhecimento do jogo (principalmente pelos escalões de juvenis e juniores)?

NX- A equipa sénior é a referência para todos os jogadores de formação que nos acompanham nos jogos oficias e essencialmente porque os seus ídolos estão lá, na forma como jogam, como se comportam, como festejam os golos, nas sapatilhas que calçam, nos penteados que utilizam, etc, são um modelo que um dia estes jovens gostariam de ser para também eles terem a oportunidade de chegar aos seniores.
Nós temos uma identidade que se reflete num modelo de intervenção quer seja ao nível das atitudes e comportamentos dentro e fora do campo como nas nossas prestações ao nível do jogo.
Estamos a procurar cada ano que passa que o nosso modelo de jogo seja transversal aos outros escalões, mesmo aos iniciados, infantis e benjamins. Todos terão que de uma forma simplificada e ajustada ao seu escalão, adotar o modelo de jogo dos seniores, porque quem ganha são os atletas e as equipas sempre que eles transitam para o escalão subsequente.
Este é um trabalho árduo, que não é fácil, mas que estou a trabalhar com muito afinco para que a partir da próxima época todos possamos estar em sintonia, independentemente dos nossos ideais na conceção, organização e operacionalização do jogo, que cada um dos treinadores possa ter. Nesta perspetiva as ideias de cada um só vão reforçar o todo que é definido pelo topo da pirâmide.
Neste sentido o trabalho a desenvolver é enorme, mas possível de concretizar.


LB- Há dias perguntei ao Seleccionador Algarvio (Luis Conceição) que opinião tinha sobre o trabalho efectuado na formação já que o futuro da modalidade passa intrinsecamente pela formação – (LC)…Existem atletas com uma qualidade individual bastante razoável, mas com pouco conhecimento do jogo, é urgente dotar as pessoas que estão à frente das equipas de mais conhecimentos… Sentes também que os atletas mais jovens que recebes da formação não têm as bases correctas (não falo propriamente dos Sonâmbulos)?

NX- Quando há dois anos atrás estive como selecionador já tinha sentido com os sub20 os mesmos constrangimentos do atual selecionador. Estou plenamente convencido que o Luís ao manter-se no cargo por mais alguns anos vai ter algumas surpresas agradáveis, estou otimista se: 1) A AFA continuar com a mesma estratégia que está a aplicar este ano no futsal e que passa pela aposta em várias seleções de escalões inferiores aos sub20, como já ocorre no futebol há alguns anos. O trabalho desenvolvido pelo Luís nos escalões mais jovens, vai permitir daqui a alguns anos quando eles forem sub20 já estarem formatados e terem os requisitos essenciais para disputarem de igual para igual com seleções como Lisboa, Porto, Braga e outras; 2) A AFA investir em cursos de futsal de I e II níveis, com o máximo de um ano de intervalo, porque sabemos que alguns treinadores credenciados deixaram de estar no ativo e depois de vários anos sem treino e competição é difícil voltar. Necessitamos de investir e dar força a novos treinadores que mesmo sem clube estão interessados em agarrar a primeira oportunidade; 3) os treinadores no ativo precisam de mais iniciativas como as que se estão finalmente a desenvolver agora na AFA, com jornadas técnicas com sessões teóricas e práticas com treinadores conceituados, que nos possam abrir a mente e fazer refletir sobre o nosso trabalho; 4) Para que os clubes possam ter condições para ter mais treinadores qualificados e credenciados, atribuindo-lhes um subsídio, quanto mais não seja para o combustível, é necessário que a AFA seja a primeira instituição a dar o exemplo no apoio financeiro aos clubes, reduzindo o valor das inscrições dos atletas, taxas e outras exigências financeiras que estão a sufocar os clubes para terem possibilidade de participar nos campeonatos que a AFA organiza; 5) Os treinadores que estão a iniciar que sejam interessados, que apareçam nos clubes de referência, falem com os técnicos de referência, que observem os treinos, que façam os seus registos e que analisem no final com os treinadores que dirigiram os treinos, para que compreendam a operacionalização dos conteúdos. Que apareçam nos jogos oficiais e questionem técnicos. O pavilhão da Luz será sempre uma porta aberta a quem quiser trocar experiências e partilhar conhecimentos, como já tem sido feito no passado.
Para os treinadores que estão no ativo que partilhem os seus conhecimentos e não se escondam no baú, com receio que os outros colegas descubram o que eles fazem, sabemos todos que a filmagem de jogos faz cair por terra toda a tentativa de ocultar o seu trabalho.
Entre outras sugestões apresento algumas que podem contribuir decisivamente para uma melhor formação dos nossos futuros jogadores nos próximos anos e que passa naturalmente por que lhes ensina e como lhes ensina.

LB- Com o conhecimento que tens do futsal algarvio, que análises fazes ao estado actual?

NX- O Futsal Algarvio evoluiu mais nos últimos cinco anos, do que nos outros vinte de sua existência. Melhor conhecimento e mais competência dos seus jogadores e treinadores permitiram que nos aproximasse-mos da qualidade do futsal que já se praticava na margem sul e acima do Tejo há muitos anos atrás.
O tempo consecutivo nos nacionais das equipas de maior estrutura e historial como por exemplo a nossa, permitiu que as experiências acumuladas consecutivamente, nos dessem a capacidade de disputar jogos e resultados com qualquer equipa do país e até de divisões acima.
Temo que com a restruturação dos campeonatos voltemos novamente vinte ano atrás, ou então que apenas duas ou três equipas algarvias o consigam manter contato com os melhores.
O que nós pretendemos para o futsal do Algarve é cada vez mais competitividade e isso vão retirar-nos. Desta forma estou convicto que vamos retroceder depois de tantos ganhos conquistados por pessoas que sem nada em troca dedicaram a sua vida em prol do crescimento do futsal algarvio. Gostava de referir alguns nomes de Dirigentes/Treinadores e, perdoem-me se me esqueci de alguém: Rui Correia e João Machado (Sonâmbulos); Rui Morais (óptica Rui); Gonçalves/Delfim (Sapalense); Rui Oliveira (Gejupce)¸ Luís Barradas (Coobital / Pechão), Aleixo (Louletano) e Rosa Coutinho (Albufeira F.). Alguns outros também contribuíram para o que somos hoje, mas de longe o futsal atual, deve muito a estes homens que levaram o país a olhar para o futsal do Algarve com muito mais respeito.


LB- O campeonato nacional da 3ª. Divisão na próxima época vão ser restruturados o que equivale dizer que só 3 equipas das 14 que vão participar têm acesso à 2ª. Divisão nacional, as restantes descem aos distritais. A esta distância como avalias a possível participação das equipas Algarvias – Que futuro?

NX- A participação das equipas algarvias na próxima época numa competição destes moldes pode ser no mínimo inglória. Todos lutamos neste momento com imensos problemas financeiros e um campeonato destes sai demasiado caro aos clubes para que no ano seguinte sejam premiados com a descida administrativa. Sabemos que somente três vão salvar-se, o Louletano será com certeza uma delas não só pela qualidade do seu treinador como do seu plantel e também em função da classificação desta temporada desportiva.
A Troika também chegou à Federação, querem resolver num ano um trabalho de restruturação que deveria levar no mínimo três a quatro anos. As forças das capitais falaram mais alto, os clubes de lá querem um distritalão na terceira nacional, como já acontece na segunda nacional. Fortes interesses ganharam braço de ferro com as periferias, o Algarve e Alentejo fica muito longe, não interessa fazer tantos quilómetros, muito tempo perdido e agora em termos de dinheiro já não compensa, principalmente para os árbitros.
Reconheço dois grandes aspetos positivos a curto prazo, primeiro as equipas terão tempo para se voltarem a equilibrar em termos de tesouraria e apoios
 Institucionais à medida que a economia for melhorando e, segundo em termos desportivos poderá haver mais probabilidades de uma equipa bem estruturada de subir à segunda divisão nacional.
O grande problema na minha opinião é que vamos voltar novamente a perder o contato com as equipas de lisboa que estão muito à nossa frente, principalmente em termos de jogadores. Este fato vai retirar o ganho de competitividade que tivemos ao longo dos últimos 15 anos. Quem for campeão do distrito e lá chegar, arrisca-se a estar apenas um ano, tal como aconteceu aos Matraquilhos dos Açores este ano na segunda nacional. Querem-nos isolar outra vez e vamos pagar essa fatura a longo prazo, por mais que as nossas equipas algarvias tenham melhorado imenso e possa haver bons campeonatos no Algarve. Até a Taça de Portugal vamos perder aos estarmos por cá, não voltaremos a ter uma série como a D (3ª Div), que progressivamente com mais alguns anos poderia ser composta por equipas em que a maioria fossem algarvias, algumas alentejanas e uma ou outra de Setúbal e Lisboa. Nunca tivemos tantas equipas do Algarve nesta série como este ano, fruto da qualidade dos treinadores, jogadores e clubes algarvios que muito desbravaram caminho para terem o nível que têm.
A participação específica dos Sonâmbulos, com uma equipa em construção e, que irá tentar passar do ano zero para o ano número um, será a mesma deste ano, tentar conseguir não ficar nos últimos cinco lugares que em termos normais seria a manutenção. Como falamos do campeonato do próximo ano, de um cenário anormal, nós não nos vamos encostar a uma anormalidade administrativa e dizer que a manutenção será com o terceiro lugar. Procuraremos para a nossa realidade encarar este campeonato como no ano anterior, não ficar nos últimos cinco e procurar olhar para cima sempre que nos deixarem. Este ano igualamos a melhor classificação da história do clube, quem sabe poderemos superá-la, esse será um desafio difícil mas não impossível. Se a média de idades da nossa equipa fosse de 28 anos, e já com meia dúzia de anos de trabalho, com certeza poderíamos assumir mais qualquer coisa, assim lutaremos para ser normais dentro desta anormalidade.


LB- Para um treinador que está há alguns anos nos campeonatos nacionais, mas que se mantem informado sobre o que se passa nos distritais, que análise fases à restruturação dos campeonatos, com este ingrediente dos Play Offs?

NX- Os play offs que foram aplicados este ano no distrital, na minha ótica, só fizeram sentido porque houve poucas equipas a participar e, era intenção prolongar por mais algum tempo o campeonato para que não terminasse em Fevereiro. Só por este fator se pode aceitar a sua alteração.
Não concordo em absoluto com este modelo e passo a explicar as razões da minha discordância:
1)           Como todos podemos constatar e fomos sensíveis a isso, a Casa do Benfica de Vila Real de ST ANT. foi de longe a melhor equipa na fase regular e acabou com uma distância pontual do 2º classificado de 8 pontos, de 10 pontos do terceiro e de 12 pontos do atual campeão. Ou seja só não foi melhor contra uma equipa (Farense), em dois Sábados de competição. Os campeonatos são uma prova de regularidade que terão na minha modesta opinião de ser decididos ao longo dos sete a nove meses do seu tempo de duração. Não se pode competir durante sete meses, quase a feijões para que depois em duas semanas tudo se resolva. Quem consegue controlar imensas variáveis que surgem nestas últimas 2 semanas à melhor de três jogos?
2)           Na minha opinião não podemos comparar a realidade de um playoff de uma 1ª div. Nacional, que foi pensado exclusivamente para que as equipas profissionais se encontrassem sempre na final. O que tem acontecido desde que ele foi criado, Benfica e Sporting sempre presentes e, uma vez o Belenenses, lembram-se de outras equipas que chegassem lá?, quantos anos já passaram?
Comparar realidades de equipas profissionais com as nossas super amadoras é comparar o incomparável e copiar sem medir consequências.
3)            As equipas profissionais ao invés das amadoras como as nossas, são homogéneas, ou seja têm 14 jogadores de campo ao mesmo nível, se na altura do playoff houver um castigo ou lesão a equipa “carbura” na mesma e por vezes ainda melhor. Na nossa realidade, tal como ocorreu com a Casa do Benfica, teve naquele sábado em Faro de ter um dos seus melhores jogadores e muito influente na equipa, lesionado, com mais alguns que também estavam a recuperar de lesões recentes e que não se encontravam no seu melhor, mais salvo erro um jogador castigado, para não se apresentar na sua máxima força, onde toda a época se decidia, não porque treinadores não souberam gerir a equipa e prepará-la para aquela semana específica, mas por mera sorte e infortúnio. Ou seja a variável aleatória teve mais peso e condicionou mais aquela equipa naquela semana, provavelmente se fosse três semanas antes ou depois daquela data do jogo a sorte teria ditado o inverso. Num campeonato de regularidade podes ter a infelicidade por castigo ou lesão de perder um ou mais jogadores, mas não tem implicações direta na classificação final da época desportiva, há tempo de recuperar nos restantes meses de competição.
4)           Para equipas amadoras terem que jogar às 21.30 h de sexta-feira e fazerem 60km para jogarem implica terem que sair no mínimo às 18.00/18.30H, para quem trabalha até às 20.00 horas como fazemos, até podem ser dois ou três jogadores dos mais influentes na equipa. Assim simplesmente não vão, e tudo se decide num jogo, o trabalho e o investimento de uma época. Para já não falar da disponibilidade física e mental que terá um jogador no final de uma semana de trabalho e no final de um dia como o de sexta-feira. Os profissionais da 1ª div. vão para estágio todos juntos no dia anterior à competição, não têm problemas de se ausentarem por estar a ganhar a vida. Como podemos comparar?
5)           Alguns jogos do playoff distrital foram marcados para as sextas-feiras, também por causa das arbitragens, assim teríamos os melhores árbitros, supostamente para os jogos decisivos, mas ganhava-se aqui, mas perdia-se nos fundamentos do ponto 4). E os jogos que se realizaram aos Sábados em que os melhores árbitros estavam a apitar equipas do nacional. Ficamos com os piores árbitros e menos experientes para apitar jogos que decidiam uma época, tal como aconteceu no pavilhão do Farense, no primeiro jogo com a Casa do Benfica de VRSA. Sem tirar mérito à vitória do Farense, mas os árbitros não tinham as mínimas condições para serem juízes de um jogo em que todos os pormenores condicionavam o resultado. Aquela moldura humana e aquelas duas equipas mereciam mais respeito, mas ao invés tivemos árbitros demasiados fracos e inexperientes, nas grandes decisões. Foi simplesmente vergonhoso. 
6)           Queremos pavilhões cheios como acorreu em alguns jogos nestes playoff em que tudo se decidia, queremos muito com certeza, mas queremos sempre todos os fins-de-semana, não podemos ansiar molduras humanas somente em março/Abril, onde tudo se decide. Os adeptos se souberem que cada jogo decide, desde Outubro num campeonato exclusivo a duas voltas, ganham o hábito de ir aos pavilhões ver futsal durante todo o ano, não ficam a aguardar por Abril para ver futsal.

LB- Terminada que está a época, acredito que já esteja a ser planificada a próxima, que podemos esperar da equipa dos Sonâmbulos. Quais os objectivos?

NX- A próxima época está a ser planificada com a direção do clube, por intermédio do Presidente, Sr. Rui Correia, desde do último jogo do campeonato e após facilmente selado um acordo por mais um bom ciclo de anos, essa foi a vontade de ambos e quando assim acontece, é fácil sermos companheiros. É dentro desta simplicidade que nos carateriza que vamos voltar a olhar para o futuro com a prata da casa.
Tudo faremos com trabalho, rigor, dedicação e muita disciplina, continuar a honrar as cores da nossa camisola.
O processo de formação continuará com a equipa sénior procurando torná-la mais competente e proficiente. Este ano também vamos estender ainda mais o nosso acompanhamento às equipas da formação. Os nossos objetivos são sempre fazer o melhor que podermos e conseguirmos, em que os objetivos quantitativos (pontos) jamais se vão sobrepor aos aspetos qualitativos associados às nossas prestações. Se formos capazes e, colocarmos em prática aquilo que treinamos, se nos deixarem, vamos procurar ganhar sempre que possível.
Iremos dotar com tempo, paciência e muita persistência esta equipa dos fundamentos necessários para que daqui a alguns anos, quando a equipa tiver uma média de idades mais elevada, possamos assumir uma subida à segunda divisão nacional. Esse será sempre o meu propósito e darei o meu melhor para que um dia esta equipa possa competir a outro nível, tal como o fiz há uns anos atrás na minha anterior equipa.
Acredito que vamos conseguir, demorará tempo, mas ninguém duvide da nossa capacidade de atingir o que para muitos parece impossível.


LB- Como já frisei a vossa equipa é muito jovem, com atletas formados no clube, a politica de aposta na formação será para continuar, ou haverá reajustes no plantel com atletas mais experientes (próxima época)?

NX- A aposta na formação é para continuar, principalmente agora, depois de uma época tão positiva nesse sentido. Não haverá reajustes no nosso plantel, contamos com todos os que terminaram a época desportiva e, que foram todos, mais os juniores que sobem e, que desde Março já treinavam com a equipa sénior.
Iremos continuar no mesmo caminho, potenciando todos os que querem estar connosco por amor à camisola e amizade ao clube.
Poderá assim levar mais tempo até chegarmos ao topo da montanha, mas certamente um dia, será bem mais saboroso.


LB- Para os jovens treinadores que vão iniciando a sua carreira, que conselhos podes deixar. Que linhas de orientação devem seguir, no teu ponto de vista claro?

NX- Desculpem-me a modéstia, não me considero exemplo nem referência no futsal algarvio. Quem sou eu para deixar conselhos aos colegas algarvios que não me vêm como tal. Tenho que reduzir-me à minha simplicidade e eu sim, procurar aprender e ouvir as recomendações de todos aqueles que têm sido votados unanimemente ano após ano por treinadores, jogadores e dirigentes dos clubes, como técnicos do ano, promovidos pela Associação de Futebol do Algarve. Esses colegas sim, que têm ganho no final das épocas, os prémios, têm na minha ótica muito mais reconhecimento e valor para darem conselhos e boas orientações futsalisticas.
Por isso termino discordando da primeira linha do parágrafo antes da primeira questão, não sou nem nunca fui, reconhecido por muitos o melhor treinador do Algarve, assim têm ditado as votações nos últimos anos, na eleição do melhor treinador do ano, e, que eu nunca tive o privilégio e a honra de receber esse prémio.

LB- Que mensagem gostarias de deixar aos adeptos dos Sonâmbulos?

NX- Que acreditem e apoiem sempre a nossa equipa nos bons e nos momentos menos bons. Mais do que nunca o clube luta pela sobrevivência, penso que o pior já passou, mas temos grande caminho ainda a percorrer. Esta equipa composta por muitos jovens precisa muito da vossa ajuda, principalmente nesta hora de tantas dificuldades financeiras. Estes miúdos podem ser o garante do clube por um período de alguns bons anos, por isso compreendam a irregularidade nas suas prestações, por vezes estão muito bem e no mesmo jogo, minutos depois estão menos bem e, no jogo seguinte igual. Haverá muitas oscilações nos próximos anos nas suas prestações e consequentemente o coletivo sentir-se-á deste fator, umas vezes mais outras menos. Os resultados inevitavelmente também serão o reflexo desta inconstância.
Certamente podemos prometer nos treinos e nos jogos muito crer, muita garra e que nos deixem sonhar, porque queremos e vamos conseguir levar este clube a patamares mais altos, nem que para isso no próximo ano tenhamos que dar um passo atrás para depois com toda a convicção podermos dar dois em frente.


LB- O teu trabalho é reconhecido por todos, por isso pergunto, se a fronteira do algarve é um limite, ou existem sonhos e objectivos maiores?

NX- Quando vim viver para o Algarve assumi que teria que ser feliz longe da primeira divisão, onde me encontrava. Se tivesse a obsessão de optar por uma carreira de treinador na 1ª divisão, tinha ficado no Instituto D. João V, teria certamente sido treinador da equipa primeiro que o Tó Coelho (Académica) e Nuno Dias (Sporting), porque eles eram mais novos do que eu e, ainda tinham alguns anos para jogar. Naturalmente seria o treinador a seguir ao Rui Gama que era o mais velho. A sucessão natural seria assim e, naquela casa o sucesso era quase garantido porque tinha a mesma filosofia da formação que os Sonâmbulos têm.


Agora dou prioridade à minha família e à minha profissão, não saio do Algarve por nada, o meu desafio sempre foi e sempre será, levar uma equipa algarvia que eu me identifique, ao lugar onde provavelmente eu não deveria ter saído.


Agradeço uma vez mais a tua disponibilidade.
Luis Coutinho Barradas

Fotos enviadas por Nuno Xabregas